
Maria Leite resolveu tornar público um desabafo através do qual revela que está a trabalhar num bar para conseguir fazer face às despesas, que não consegue colmatar somente com o que recebe a trabalhar enquanto artista.
Ainda que admita ter neste momento diversos projetos artísticos, a atriz portuguesa explica que prefere segurar levante trabalho extra porquê forma de combater a precariedade da profissão e denuncia o facto de os artísticas serem cada vez mais mal pagos.
“Para colegas e amigos atores: não há vergonha nenhuma em segurarmos empregos que nos asseguram rendas e alimento. Estou num momento bom, com projetos que faço por escolha, trabalho e reconhecimento não têm faltado: desde dobragens, geração, circulação de espetáculos, rodagens. Falo de ventre enxurro no que diz reverência a valor artístico. Mas os orçamentos são tão baixos e o dispêndio de vida a subir tanto, que não há porquê manducar e remunerar teto só com trabalho artístico neste momento, ou pelo menos para mim não tem sido provável”, começou por grafar.
Quanto ao preconceito que ainda existe em relação a atores que procuram alternativas de trabalho fora do meio atristo, Maria Leite mostra-se contra ideias ultrapassadas a levante reverência:
“Havia uns ‘mestres’ antigos empoeirados (apanhei conversas parvas destas na ESTC [Escola Superior de Teatro e Cinema] que diziam que um ator detrás de um balcão de bar ou numa caixa de supermercado era incongruente com a perenidade da profissão. Não é. Vergonhoso é termos deixado subtrair tanto o nosso valor de mercado. Tudo a permanecer mais custoso e nós cada vez mais baratos. Segurar trabalho só nos valoriza. Os valores e condições da intermitência não nos seguram. Deviam, mas não é real”, completou.
Maria Leita fez inicialmente esta partilha nas histórias do Instagram mas, “a pedido de algumas famílias”, acabou por partilhar as suas palavras e o vídeo no qual aparece a trabalhar num bar num ‘reel’.
José Raposo não ficou indiferente à publicação e manifestou também a sua indignação perante os valores que hoje são pagos aos artísticas portugueses.
“Obrigado por esta partilha, Maria. Hoje paga-se nas televisões, teatros, cinemas, dobragens, mais ou menos o mesmo de há 20 anos! Porquê sabes, sou um privilegiado no que diz reverência a perenidade de trabalho, mas conheço a verdade das vidas das ‘nossas’ gentes”, escreveu nos comentários da publicação da atriz Maria Leite.
Mais tarde, o veterano ator resolveu mesmo partilhar na sua página o desabafo da colega e amiga e reforçou a sua opinião sobre o tema:
“A Maria Leite, uma magnífico atriz que conheço há muito. Disse tudo nesta publicação. De facto, a maior segmento dos artistas, de qualquer dimensão artística, é miseravelmente remunerada em relação ao dispêndio de vida atual. Sabemos todos que se passa o mesmo nas outras profissões, mas a nossa é feita de intermitências, ou seja, é um trabalho que não é contínuo, trabalhamos ‘à peça’ literalmente! Por isso, o facto de ter de se juntar à atividade artística outras atividades profissionais para se sobreviver, isso é uma verdade… Tempos difíceis estes… Um ósculo Maria️
Ah! E sei que sou dos poucos sortudos que têm tido trabalho mais ou menos continuado, mas não é o que se passa com a maioria de nós”.
Filipa Areosa leu com atenção a partilha de Maria Leite e resolveu comentá-la manifestando o seu ponto de vista e colocando uma questão que lhe invadiu o coração.
“Li com atenção e senti mesmo o que partilhaste. Esse estabilidade entre fazer o que amamos e, ao mesmo tempo, mourejar com um mercado que tantas vezes não nos sustenta… é duro e real. Mas ficou-me esta pergunta no coração: será que o reconhecimento é verdadeiro, se não vem também com condições justas? Ou estamos só a ser elogiadas para continuarmos a admitir menos do que merecemos? Digo isto com todo o carinho e reverência – e com a esperança de que, passo a passo, possamos viver da arte com o valor que ela (e nós) temos”, escreveu a também atriz.
A atriz Joana Figueira, por seu vez, viu-se refletida nas palavras de Maria Leite e lembrou os vários trabalhos que já desempenhou fora do meio artístico para conseguir remunerar contas e sobreviver.
“Fui rececionista, telefonista, administrativa e pregoeira. Conduzi carros da Uber, fiz limpezas em quartos de hotel e em plena pandemia estava na caixa de um supermercado. Fui empregada de mesa e produtora. Sou menos atriz por isso? Não! Só me acrescentou”, admitiu a atriz portuguesa, assegurando que todas estas experiências lhe deram “emoções e sentimentos [que] foram experimentados até à última pingo”.
“Se gostei verdadeiramente? Não! Doía-me a cada levantar da leito, a teoria de ir fazê-lo por premência extrema. Vergonha? Nunca! Vergonha é o estado a que chegou a vida dos trabalhadores da cultura. Os que dão a face e lutam são sempre os mesmos e poucos. Não sei se qualquer dia assistirei à união desta classe, infelizmente. Mas era bonito! Um amplexo poderoso, Maria”, terminou.
Atriz Joana Figueira ao lado de José Raposo© Instagram_joanafigueiraoficial
Por término, destacam-se ainda nos comentários da partilha as palavras da atriz Cátia Nunes. A atriz diz estar a trabalhar porquê agente imobiliária e denuncia ser objectivo de preconceito pela classe artística:
“Se soubesses porquê já fui olhada com tristeza pelos nossos pares porque ou estava a ‘vender casas, coitada’ ou a ‘conduzir uber, tadinha’ (palavras deles). Juntas”.
Atriz Cátia Nunes© Joana Correia
Leia Também: ‘Muito-Vindos a Beirais’. 5 atores que fizeram segmento da série e já morreram