
A possibilidade de um bloqueio ao Estreito de Ormuz, onde transita muro de 20% do petróleo mundial, é considerada o principal fator de risco geopolítico a pequeno prazo.
Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, destaca o comportamento contido do mercado posteriormente os ataques a instalações nucleares no Irão.
“Apesar da ingressão dos EUA no conflito, o Brent [negociado em Londres e que serve de referência às importações nacionais], estabilizou nos 78 dólares”, mostrando que os investidores “continuam a apostar num conflito temporário e numa solução no pequeno prazo, que poderá passar até por uma mudança de regime no Irão”, referiu.
Mas, avisa que, se houver um bloqueio formal de Ormuz, haverá “consequências significativas e disruptivas para o estabilidade do mercado energético global”.
O economista lembra que o Brent subiu dos 64 dólares no início de junho para os 78 e que a subida dos combustíveis em Portugal, com o gasóleo a aumentar hoje muro de oito cêntimos por litro, “já reflete esse risco”.
Já Filipe Garcia, economista da IMF — Informação de Mercados Financeiros, salienta que, apesar do potente aumento do crude nas últimas semanas — o contrato WTI, negociado em Novidade Iorque, subiu mais de 40% desde maio —, o mercado tem reagido com moderação.
“O fecho de Ormuz não é o cenário mediano. Para o Irão e restantes países do Golfo, seria perder a sua manadeira de receitas, e para os clientes mais importantes dos iranianos, porquê a China e a Índia, traria preços mais altos e indisponibilidade de resultado”, explicou.
“Israel e EUA estão cientes deste facto e não será de estranhar que a infraestrutura petrolífera iraniana não tenha sido ainda atacada — e parece ser um meta relativamente fácil”, comentou.
Vítor Madeira, crítico da XTB, é mais incisivo quanto aos riscos: “Um bloqueio do Estreito de Ormuz teria um impacto inopino e muito significativo, podendo o Brent subir até 25% nos primeiros dias. Se o bloqueio se prolongar, não se descarta uma escalada de mais de 50% no valor do barril. Isto teria impacto em todos os bens transportados e na inflação global”, afirmou.
Apesar do alerta, o responsável reconhece que o cenário de escalada não é inevitável.
“Caso as operações militares dos EUA e de Israel sejam bem-sucedidas e consigam neutralizar as ameaças estratégicas, poderá ocorrer uma retração na intensidade do conflito. Isso criaria espaço para iniciativas diplomáticas e, porquê consequência, uma provável correção nos preços do petróleo”, explicou.
“Neste cenário, o mercado tenderia a sorver o choque inicial e retomar uma trajetória mais sólido”, acrescentou.
Quanto aos combustíveis, alerta que “se o conflito se aumentar, os reajustes podem ser mais acentuados e imediatos”.
Gregor Hirt, diretor de investimentos globais da Allianz Global Investors, observa que a evolução das próximas semanas dependerá também da capacidade dos grandes produtores em estabilizar os fluxos.
“Os grandes produtores, mormente a Arábia Saudita, podem indemnizar as disrupções no fornecimento, mas a maior segmento das suas exportações passa também pelo Estreito de Ormuz. Uma libertação coordenada das reservas estratégicas — que na União Europeia cobre muro de 90 dias de importações — pode ajudar a mitigar efeitos imediatos”, apontou.
Os EUA têm reservas para muro de 20 dias, embora sejam quase autossuficientes, e estima-se que a China tenha 30 dias.
A médio prazo, os analistas concordam que, em caso de estabilização geopolítica, o mercado voltará a ser guiado por fundamentos clássicos de oferta e procura.
“A componente especulativa, que hoje domina a formação de preços, tende a desvanecer – comportamento que já foi observado em conflitos anteriores de natureza semelhante”, conclui Vítor Madeira.
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