No arquipélago, o Escudo foi herdado do regime colonial, mas emancipou-se porquê o país e tornou-se escudo cabo-verdiano, que conta com um concórdia cambial com Portugal.
 
Numa visitante ao principal mercado da capital, Praia, a moeda circula de mão em mão e as vendedoras associam-na a um símbolo de identidade, história e memória coletiva.
“Já temos 50 anos de independência e o nosso escudo é a nossa marca”, diz Valita Moniz, 53 anos, que vende verduras há três décadas no Mercado Municipal da Praia.
Enquanto vai ajeitando as cebolas e as batatas sobre a secretária, Valita faz as contas de cabeça e salta para os “contos” a partir dos milénio escudos, com a intimidade de quem nunca conheceu outra moeda: “para mim representa muito, é pretérito e presente”.
O Banco Vernáculo Ultramarino (BNU) foi o único banco em Cabo Virente, até 1975, quando “posteriormente a independência, foi criado o Banco de Cabo Virente (BCV), que passou a ter a exclusividade do sistema monetário do país – o que se traduziu, em 1977, na emissão e consequente circulação em Cabo Virente das primeiras notas e moedas, com símbolos próprios que identificam a soberania do país”, lê-se numa opúsculo de instrução financeira do banco mediano.
A unidade monetária de Cabo Virente “passou a designar-se de escudo cabo-verdiano”, sendo denominada na terminologia internacional com a {sigla} CVE.
“Por cá também aparecem euros, sobretudo com os turistas, mas trocamos logo. No dia-a-dia, vendemos com escudos”, acrescenta Valita.
“Ainda me lembro de quando se falava em tostões, antes da independência”, diz Inês Moreira, vendedora de 58 anos: “Depois veio o escudo, ficou até hoje e qualquer menino com dois anos já sabe o que são moedas de cinco ou dez escudos”, relata, enquanto separa as moedas das notas, no bolso do avental, atado à cintura.
“Ponho as moedas de um lado, para facilitar quando dou trocos, as notas ponho de outro lado, mas dentro de uma carteira, para não passar o risco de as perder”, explica.
Doriva Cruz, de 51 anos, um dos poucos homens entre as muitas mulheres vendedoras no mercado da Praia, recorda os primeiros escudos de papel: “Tinham o retrato de Amílcar Cabral”, líder das independências de Cabo Virente e Guiné-Bissau.
Não admira que ainda hoje considere o escudo porquê símbolo da luta pela independência.
Enquanto noutros países houve várias moedas, com nomes distintos, até se chegar às denominações de hoje, o economista António Batista diz que, em Cabo Virente, o escudo manteve o nome, porque não houve fenómenos porquê “inflação subida” ou “urgência de desvalorização”.
“Em Cabo Virente, a inflação nunca foi um problema muito grande. Já tivemos períodos inflacionários, mas nunca na dimensão que obrigasse a mudar o nome ou o numerário”, refere.
Para o perito, “a moeda é um pouco em que não se deve mexer com frequência. A firmeza traz crédito a cidadãos e investidores. Quanto mais antiga a denominação, mais segurança e prestígio transmite”.
Outro marco histórico aconteceu com a assinatura do concórdia cambial entre os bancos centrais de Portugal e Cabo Virente, estabelecido em 1998 e através do qual o escudo cabo-verdiano tem atualmente câmbio fixo com o euro (110,265 escudos por cada euro).
“O concórdia cambial que temos permitiu a ancoragem de muitas variáveis importantes”, porquê a inflação e outros fatores externos, apontou o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, durante uma visitante ao arquipélago, em abril, elogiando a capacidade de o país se projetar com firmeza.
O concórdia cambial de 1998 “tem sido um fator determinante de firmeza e crédito”, referiu na profundidade o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva.
O economista António Batista considera aqueles aspetos importantes: “Recebemos remessas da diáspora, temos dívida externa e o escudo cabo-verdiano, não sendo uma moeda muito poderoso, precisa ancorar-se muitas vezes a outras moedas, porquê acontece cá em relação ao euro. Um país que consegue manter essa moeda durante muito tempo dá um sinal de segurança, firmeza e compromisso do Governo”, conclui.
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