
“Nas economias avançadas que estão a passar por um choque da procura — nomeadamente a União Europeia — que estão sujeitas a tarifas, estamos a ver as expectativas de inflação a minguar”, afirmou a responsável, numa sessão da Conferência Global do Milken Institute.
Na China, a severidade desse choque será de tal ordem que o país poderá enfrentar deflação, avisou Georgieva. O contrário é esperado para os Estados Unidos, onde a previsão é de aumento da inflação porque a procura não está a minguar mas a oferta sim, devido às barreiras repentinas das taxas aduaneiras.
Estas tendências inversas resultam da “turbulência significativa que estamos a encruzar no negócio global” por justificação das tarifas, um dos principais temas económicos discutidos na conferência e que apresenta desafios para as políticas monetárias.
Embora considere que a economia mundial tem sido “extremamente resiliente” perante choques sucessivos, incluindo a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, Georgieva avisou que os próximos tempos serão difíceis.
“As consequências são significativas porque estamos a ir de um regime mercantil previsível para aquele que será um novo estabilidade, mas a forma de lá chegar é muito incerta”, declarou a diretora. “O preço da transição, o que o mundo está a remunerar por essa mudança de um estabilidade para alguma coisa novo, não é trivial”.
O FMI reduziu as suas expectativas de desenvolvimento poupado em 2025 de 3,3% para 2,8%, embora ainda não preveja uma recessão.
Kristalina Georgieva disse que as reuniões de primavera do FMI, que decorreram no final de abril, mostraram muita impaciência nos países membros e urgência de transfixar um caminho para o retorno da previsibilidade.
“A minha expectativa é ver muita atividade em torno das relações comerciais, com mais acordos bilaterais e multilaterais”, indicou. “Também espero ver os países a fazerem finalmente o que já deviam ter feito, mais trocas entre vizinhos e reformas que temos defendido”.
Para a diretora do FMI, esse é o lado positivo do que está a intercorrer. Considerou que o choque levará países porquê a Alemanha a fazerem reformas necessárias — no caso do ‘motor’ europeu, com uma expansão da dívida que lhe permitirá crescer mais.
O caso dos Estados Unidos é dissemelhante, porque o défice está muito proeminente e o incisão de impostos que será legalizado pela novidade gestão irá aumentá-lo. Georgieva apontou que houve um excesso de despesas com estímulos no país e que os gastos têm de ser refreados.
“Vamos ver muito mais atenção ao que pode pôr as economias a crescer mais rapidamente, porque não se pode pedir emprestado para remunerar dívidas”, salientou. “Só se pode crescer para trespassar das dívidas”.
Ainda assim, apesar da volatilidade nos mercados financeiros, a responsável não vê urgência de interferência da Suplente Federalista nem de outros Bancos Centrais. O que é necessário, reiterou, é reduzir a incerteza para prometer que os investidores continuam a investir e os consumidores continuam a consumir.
Além da sessão com a diretora do FMI, houve um pintura de discussão sobre os mercados de capitais a nível global e o que se prevê para os próximos meses.
Andrew Sullivan, CEO da Prudential Financial, disse que já está a ver os níveis de investimento a minguar, em peculiar na extensão de imobiliário. Jane Fraser, CEO do Citigroup, notou que a maioria das empresas se encontra num limbo, à espera de ver porquê a situação se vai desenrolar antes de voltar a investir.
“Os clientes estão a preparar-se para ventos contrários”, afirmou a executiva, apontando que a situação nos levará mais rapidamente para um mundo multipolar, com grandes economias a repensarem as suas ligações.
Também Harvey Schwartz, CEO da Carlyle, salientou que o “dispêndio do risco está mais proeminente porque a incerteza aumentou”. O executivo espera que haja alguma nitidez até ao final do ano e considerou negativo o embate com a China. “Não será um bom resultado que as duas maiores economias do mundo estejam numa guerra mercantil”.
A Global Conference do Milken Institute decorre até quarta-feira, 07 de maio, no Beverly Hilton em Los Angeles.
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