
a d v e r t i s e m e n t
O investigador Gerhard Seibert, do Núcleo de Estudos Internacionais do ISCTE, em Portugal, alertou para o risco real de explosões sociais em algumas das ex-colónias portuguesas em África, considerando que a combinação entre elevada pressão demográfica, desigualdade e frágil governação constitui um verdadeiro “barril de pólvora”.
Em entrevista à filial Lusa por ocasião dos 50 anos das independências africanas, o profissional sublinha que o desenvolvimento da população jovem, em contextos marcados pela falta de chegada a serviços básicos, ensino e ocupação, levanta sérias preocupações.
“Metade da população tem menos de 24 anos. Essas pessoas querem consumir, estudar, trabalhar. E os governos não conseguem hoje satisfazer as necessidades elementares de grande segmento da população. Uma vez que conseguirão dentro de cinco ou dez anos?”, questiona Seibert.
O investigador reconhece avanços no trajectória pós-colonial, mas sublinha que a independência política não foi acompanhada de uma verdadeira autonomia económica, e que muitos dos actuais desafios estão ligados à má gestão dos recursos naturais e à carência de alternância democrática.
Recursos naturais: bênção ou maldição?
Para Seibert, países uma vez que Angola e Moçambique, com vastos recursos uma vez que petróleo, gás procedente e diamantes, tinham potencial para transformar-se economicamente. No entanto, aponta que esses bens acabaram por enriquecer uma escol restrita, sem gerar impactos sociais estruturantes.
Metade da população tem menos de 24 anos. Essas pessoas querem consumir, estudar, trabalhar. E os governos não conseguem hoje satisfazer as necessidades elementares de grande segmento da população. Uma vez que conseguirão dentro de cinco ou dez anos?
“Falhou-se no reinvestimento das receitas na saúde, ensino e geração de oportunidades. Em vez disso, criou-se uma escol que não traz benefícios para o País”, lamenta.
Comparações com Cabo Virente e São Tomé e Príncipe
O investigador destaca os exemplos de Cabo Virente e São Tomé e Príncipe, que, apesar da escassez de recursos naturais, têm conseguido manter segurança política e social. A homogeneidade cultural e a carência de tensões étnicas ajudam a explicar, segundo Seibert, esses casos de relativa segurança.
Direitos humanos e democracia
O investigador assinala que nas primeiras décadas da independência os regimes eram monopartidários e autoritários, mas hoje existe maior pluralismo político, embora restringido.
O caso de Moçambique é usado uma vez que exemplo: os protestos de 2024, posteriormente as eleições de Outubro, resultaram em mortos, mas para o investigador, leste tipo de queixa seria impensável no tempo de Samora Machel.
“O que falta é a alternância do poder através do voto. Os partidos no poder mantêm o controlo sobre a polícia e as forças armadas, o que impede mudanças democráticas”, afirmou.
Submissão externa e soberania limitada
O profissional também abordou a submissão económica de instituições uma vez que o FMI e o Banco Mundial, referindo que essa relação condiciona a soberania dos países africanos.
“A ajuda internacional traz sempre contrapartidas. Por vezes, até o modo uma vez que se vota em organizações internacionais pode ser influenciado por essa submissão”, referiu.
Legado ideológico e fragilidade da oposição
Sobre os legados políticos, Seibert afirma que a aposta marxista-leninista em Angola e Moçambique serviu uma vez que “legitimação do poder”, mas considera que a fragilidade e partilha das oposições nestes países também contribui para a falta de alternância.
“Não sabemos se, uma vez no poder, a oposição seria melhor. No caso de Moçambique, ninguém pode prometer que Venâncio Mondlane seria melhor do que Daniel Chapo”, concluiu.a d v e r t i s e m e n t