
“Não acho que é o momento de realizar [a greve geral], é tempo de pensar as implicações das mudanças e do que vão impor a prazo se não se quiser entrar num retrocesso profundo. Não digo que é agora que tem de se fazer a greve, é agora que é preciso identificar o que vem aí, não se faz greve universal sem explicação da sociedade”, afirmou à Lusa Manuel Roble da Silva.
Na semana passada, Roble da Silva (que foi líder da medial sindical CGTP durante 25 anos, entre 1986 e 2012) escreveu um cláusula no Jornal de Notícias em que recordou a greve universal conjunta que CGTP e UGT fizeram em 1988 para considerar que “boas experiências vividas no pretérito podem ser inspiradoras no presente”.
Questionado pela Lusa sobre se defende já uma greve universal, o economista respondeu que para já o que é preciso é “uma grande ação de explicação” na sociedade perante a “agenda regressiva” do Governo e de vários setores da sociedade pois — argumentou — a narrativa atual “vive de argumentos mentirosos”.
Uma das falácias, disse, é a de que “só é verosímil melhorar [a vida das pessoas] se houver desenvolvimento parcimonioso”, considerando que desenvolvimento sem melhor distribuição da riqueza não chega a quem precisa.
Considerou ainda que quando o Governo diz regularmente que quer meter “mais numerário no bolso das famílias” tal é uma frase vazia face ao aumentar das condições de vida e uma ilusão se for feito “às custas da segurança social”.
“Quando em Portugal temos um aumento dos preços da habitação de 16% [no primeiro trimestre] quanto é preciso aumentar salários só para fazer face a isto”, perguntou.
Considerou ainda uma perigosa ilusão a teoria de diluir os subsídios de Natal e de férias nos salários mensais pois rapidamente esse aumento momentâneo é absorvido e a médio e longo prazo os trabalhadores saem penalizados.
“Não foi agora que se descobriu que o ano tem 12 meses. Os subsídios de Natal e de férias foram criados por compromissos com outros objetivos, de em momentos com dimensões específicas (final de ano, férias) as pessoas terem rendimentos extra”, explicou.
Segundo Roble da Silva, caso venham a ser incorporados estes subsídios nos ordenados dos 12 meses do ano basta “não atualizar os salários quatro ou cinco anos para se esfumar” essa aparente vantagem.
O economista defendeu ainda que “a propaganda dos impostos é vigarice”, considerando que em Portugal quem é penalizado pelos impostos são os mais pobres e menos favorecidos – desde logo nos impostos indiretos uma vez que IVA que são iguais para qualquer pessoa – e que é “peta que Portugal é um país contra a iniciativa privada”.
“É mais fácil em Portugal ser empresário do que ser trabalhador qualificado”, disse.
Para o economista, com a atual especialização da economia portuguesa, habitação especulada e saúde cada vez mais uma vez que negócio não há melhoria de rendimentos e das condições de vida das pessoas.
“São estas mistificações que estão profundamente enraizadas na sociedade e para que será preciso anos de combate. É um trabalho de formiga que é preciso fazer, é preciso visão estratégica para estabelecer alianças, nomeadamente no movimento sindical, para sustentar lutas, incluindo greves gerais. Esse trabalho precisa de ser feito”, afirmou.
Na segunda-feira, a CGTP acusou o Governo de estar a preparar “um assalto aos direitos laborais” e avisou que, se o executivo proceder com propostas que limitem o recta à greve, não exclui convocar protestos de grande dimensão, incluindo uma greve universal.
O atual secretário-geral, Tiago Oliveira, disse que a medial sindical vai agora iniciar um processo de mobilização e debate nas estruturas sindicais e nos locais de trabalho “para preparar a resposta que for necessária” e, questionado pela Lusa, disse que a CGTP não afasta, desde o primeiro momento, qualquer forma de mediação e de luta que salvaguarde os interesses dos trabalhadores”.
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